quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O DUELO DOS NEUROCIRURGIÕES - A sopa do assassino

“As maneiras de Deus não são as maneiras do homem, 
as razões de Deus não são as razões do homem.”

O capítulo retrata o histórico de violência, agressividade física e homicídios causados por Charles Guiteau. Cita ainda fanatismo religioso e ideias incompatíveis com a realidade que o mesmo possuía, mesmo antes de contrair sífilis de uma prostituta, doença que terminou por culminar em danos cerebrais.
Guiteau baleou o presidente perto da espinha resultando em internação e agonização até a morte. Por tal incidente foi julgado, e seu cunhado advogado de defesa, alegou insanidade. Guiteau surtou em seu julgamento, ofendendo o júri chamando-os de burro, anunciando sua candidatura a presidente e alegando que disparara o tiro, mas que os médicos que haviam matado o presidente.
Apresentava também transtornos sexuais, vendendo aos colegas de cela fotos eróticas a preços módicos. Os psiquiatras alegaram que Guiteau sabia distinguir o certo do errado, sendo são.
Spitzka, 29 anos, renomado “patologista do cérebro” declarou que Guiteau tinha todos os sinais de insanidade (delírio de Deus) e também perturbação neurológica qualificando Guiteau como o mais “coerente registro de maneiras insanas, comportamento insano e linguagem insana (...) na historia da psicologia forense”.
Em janeiro de 1882 o réu foi declarado culpado e enforcado. Seu cérebro não possuía alterações macroscópicas.
Ao microscópio, seu cérebro era medonho: a substancia cinzenta era fina e ausente em algumas regiões, um lado amarelo marrom e vestígios de vasos moribundos apareciam em toda parte. Havia “indubitável doença crônica em todo o cérebro”.
Já no século XIX, os neurocientistas acreditavam que os neurônios agiam em uníssono também, pulsando e pensando em uma coisa só. Chamavam a rede de neurônio de reticulo neural.
Camillo Golgi derrubou solução de prata em fatias de cérebro de coruja, enquanto trabalhava em um manicômio, criando uma técnica de tingimento que denominou de reação negra. Nessa época o sistema nervoso tinha dois tipos de células conhecidas: neurônio e glia. Os neurônios processavam informações, e a glia (cola) fixava e fornecia nutrientes aos mesmos. Golgi não percebeu a fenda sináptica acreditando na teoria do reticulo.
Ramon e Cajal, neurocientistas, perceberam que a substancia cinzenta não era como Golgi sustentava, os neurônios não eram fundidos. Cajal percebeu a orientação em coluna vertical dos neurônios. “Axônios de uma coluna por vezes se estendiam horizontalmente até colunas vizinhas, admitiu, mas a organização vertical era geral”. Concluiu ainda, estudando a retina, que neurônios podiam falar com axônios, mas ouviam com os dendritos. Percebeu o espaço sináptico.
E, em 1906, adversários científicos: Golgi e Cajal dividiram um premio Nobel, que não foi o da paz, pois no discurso, se atacaram.
A doutrina do neurônio triunfou, fazendo as lesões de Guiteau terem sentido. O dano extenso em células da glia matavam os neurônios sem nutrição, reduzindo a capacidade de comunicação e de processamento.
O questionamento do espaço sináptico existia, gerando duas teorias:
1.      Faíscas – comunicação elétrica.
2.      Sopa – comunicação química.
O capitulo narra ainda a historia de Czolgosz que começou a trabalhar em 1883 aos dez anos, que passou a torcer fios em 1893 em uma fabrica e teve seu salario reduzido em 1893 com posterior demissão após o mesmo aderir a uma greve. Outrora republicano devotado, tornou-se socialista e defendia o anarquismo dando indícios de alterações comportamentais, tornando-se retraído e apresentando traços de paranoia. Ele leu em um jornal que o tecelão da seda ítalo-americano Bresci havia assassinado o rei Humberto da Itália, recortou e guardou a noticia. Posteriormente, baleou o presidente Mckinley que foi submetido a tratamento medico evoluindo a óbito.
Czolgosz foi a júri nove dias após a morte do presidente; O júri durou 8 horas e 2 dias. Os defensores alegariam insanidade, mas os alienistas o haviam declarado livre de paranoia e delírios, sendo a sentença morte na cadeira elétrica. Hora da morte: 7:15 da manhã. Seu cérebro foi removido as 9:45 da manhã, ainda quente. Apesar do estudo cerebral, não ter sido permitido, Spitzka admitiu na autopsia oficial: “Algumas formas de psicose não tem nenhuma base anatômica determinável. (...) Essas psicoses dependem antes de alterações circulatórias e químicas”.
O jovem cientista Otto Loewi em 1903 visitou a Inglaterra e acompanhou pesquisa acerca do coração em substancia salina, voltou para a Áustria e concluiu que o nervo, sempre que estimulado, ejetava substancias químicas. Pois aspirou solução salina com um coração pulsátil e ao transferi-la para o segundo coração, o outro acelerou conforme o esperado. Assim a doutrina da sopa conferiu o Nobel a Loewi.
O cérebro contem centenas de tipos de neurônios, todos os quais se excitam da mesma maneira básica no tocante a eletricidade. Mas sinais elétricos não podem transmitir muitas nuances. Mas os neurônios usam mais de cem diferentes neurotransmissores para transmitir varias sutilezas de pensamento.
Foi o que aconteceu com Guiteau, que já estava no limiar com sua esquizofrenia quando contraiu sífilis.
Distinguir causa e efeito é difícil no caso de química cerebral: a depressão que causa mudança nas substancias químicas do cérebro ou são essas mudanças nas substancias químicas do cérebro que causam depressão?
Czolgosz disse certa vez: “Nunca tive muita sorte em nada, e isso me consumiu”. De fato: “stress crônico pode murchar axônios e dendritos e distorcer o pensamento do cérebro de maneira imprevisível”.

Que Spitzka tenha dito isso em 1901 é extraordinário. Hoje, podemos fazer o melhor, pois sabemos como os neurônios afetam padrões globais de pensamento.